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A Polícia Civil de São Paulo concluiu o inquérito que apura irregularidades no contrato entre o Corinthians e a casa de apostas VaideBet. Segundo o relatório, houve desvio de recursos por meio da comissão de intermediação, com valores destinados a contas associadas ao crime organizado.
Duas empresas são citadas como responsáveis pela lavagem de dinheiro: Wave Intermediações Tecnológicas e Victory Trading. Os repasses, segundo a investigação, teriam beneficiado a UJ Football Talent, apontada como ligada ao PCC. O Corinthians transferiu R$ 874.150 mil à empresa por meio das intermediadoras.
Nas 272 páginas do inquérito, consta que as operações tinham como objetivo dificultar a identificação da origem dos valores. Em meio às apurações, o atacante Lucero, do Fortaleza, teve seu nome envolvido em duas transações feitas por essas empresas em dezembro de 2023. O jogador não é investigado, e sua equipe afirmou desconhecer as empresas.
As transações ligadas a Lucero envolveram R$ 357.305,00 pagos à Wave e R$ 130.000,00 à Victory Trading. A UJ Football Talent, envolvida nesses valores, atua também no agenciamento de atletas, segundo a investigação.
A conclusão do inquérito resultou no indiciamento de Augusto Melo, Marcelo Mariano e Sérgio Moura, ex-dirigentes do Corinthians, pelos crimes de lavagem de dinheiro, furto qualificado e associação criminosa. O ex-diretor jurídico Yun Ki Lee também foi indiciado, por omissão imprópria.
Horas antes de deixar o comando do Timão, ex-presidente autorizou aditivo contratual que aumentou multa de funcionário citado no inquérito do caso VaideBet
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Poucas horas antes de ser afastado da presidência do Corinthians, Augusto Melo assinou um aditivo contratual que triplicou a multa rescisória de Marcos Boccatto, Superintendente de Novos Negócios do clube. O documento foi assinado no dia 26 de maio, mesma data em que o Conselho Deliberativo aprovou o impeachment de Augusto. A assinatura foi acompanhada por duas testemunhas ligadas à gestão afastada.
O aditivo elevou a multa de Boccatto de um salário, estimado em R$ 25 mil, para três vezes esse valor. O funcionário foi desligado na primeira semana sob o comando de Osmar Stabile, presidente interino do clube. O vínculo de Boccatto com o Corinthians também é citado no inquérito da Polícia Civil que investigou irregularidades no caso VaideBet.
A Polícia apontou possível ligação de Boccatto com o crime organizado. Ele ocupava cargos simultâneos no Corinthians e no Água Santa, clube citado em denúncia anônima como “comandado pelo PCC”. Assim como outros contratos da gestão, o aditivo em questão não passou pela avaliação do Departamento Jurídico do clube, que afirmou não ter sido informado.
A situação é semelhante a alterações contratuais promovidas com empresas do grupo RF Segurança e Serviços, também assinadas por Augusto Melo e sem a devida consulta ao jurídico. As assinaturas ocorreram semanas antes da decisão do Conselho Deliberativo. À época, Vinicius Cascone era o responsável pelo setor jurídico do clube.
Procurado pela reportagem, Augusto Melo afirmou que não era a pessoa indicada para comentar o caso. “A fonte que te gerou essa informação deveria, em primeiro lugar, zelar pela preservação dos dados das pessoas envolvidas”, declarou, citando a Lei Geral de Proteção de Dados como justificativa para não se manifestar.
Além do antigo presidente do clube do Parque São Jorge, Augusto Melo, Marcelo Mariano, Sérgio Moura e Aléx Cassundé já haviam sido denunciados
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Ex-diretor jurídico do Corinthians na gestão do ex-presidente Augusto Melo, Yun Ki Lee foi o quinto nome a ser denunciado no caso VaideBet, por conta "omissão imprópria" antes da assinatura com a casa de apostas. Antigo dirigente corinthiano se pronunciou nas redes sociais e reclamou de como a Polícia Civil está conduzindo as investigações.
VaideBet: Ex-dirigente do Corinthians divulga nota após indiciamento no caso
Advogado de Yun Ki Lee, respondeu pelo seu cliente, confira: "O indiciamento de Yun Ki Lee constitui afronta ao Direito e aos fatos. Ouvido como testemunha em julho de 2024, portanto sob o compromisso de dizer a verdade e nada omitir, Yun falou tudo o que sabia sobre os fatos e sua participação na elaboração do contrato de patrocínio com a VaideBet, na condição de diretor jurídico do Corinthians."
"Fez tudo para preservar os interesses do clube, o que incluiu a pesquisa cadastral das pessoas físicas e jurídicas envolvidas; incluiu também inserção de cláusula de fiança prestada pelo representante legal da VaideBet no Brasil e de sua esposa. Yun não participou das negociações comerciais, e por isso somente recebeu os dados que deveriam constar do contrato, inclusive os da empresa intermediadora e de seu representante."
Encerramento da nota: "Ao contrário de se omitir, Yun agiu e o fez como advogado, não lhe cabendo responsabilidade pela escolha das partes no contrato. Seguramente, o Poder Judiciário corrigirá tal ignomínia, para restabelecer a ordem jurídica aviltada pelo indiciamento obrado."
Além de Yun Ki Lee, foram indiciados Augusto Melo (presidente afastado do Corinthians), Marcelo Mariano (ex-diretor administrativo), Sérgio Moura (ex-superintendente de marketing) e Alex Cassundé (dono da Rede Social Media Design, empresa apontada pela Polícia Civil como responsável pela lavagem do dinheiro).
De acordo com investigação, influenciador possui forte envolvimento com as polêmicas que tem envolvido o clube do Parque São Jorge
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Bruno Alexssander, conhecido nas redes sociais como Buzeira, está no centro de uma investigação que apura desvios financeiros envolvendo o Corinthians e o contrato de patrocínio com a casa de apostas VaideBet. Segundo relatório entregue pela Polícia Civil à Justiça em 24 de junho de 2025, empresas ligadas ao influenciador participaram de movimentações suspeitas de recursos, com indícios de lavagem de dinheiro e conexões com o crime organizado.
A Buzeira Digital, empresa do criador de conteúdo, aparece em diversas transações financeiras consideradas atípicas. Em abril de 2024, por exemplo, a Victory Trading transferiu R$ 1 milhão à Buzeira Digital apenas três dias após o Corinthians repassar valores à UJ Football, empresa ligada ao agente Ulisses Jorge. Posteriormente, mais R$ 300 mil foram enviados à mesma empresa. Além disso, entre julho de 2023 e junho de 2024, a Buzeira Digital recebeu quantias de um agropecuarista de Goiás e de um promotor de vendas do Espírito Santo, ambos também envolvidos em transferências para a Wave, companhia apontada como de fachada.
O relatório também menciona que Buzeira teria proximidade com a gestão do então presidente do Corinthians, Augusto Melo, atualmente afastado. Fotos do influenciador com o dirigente e sua presença no gramado da Neo Química Arena após o título paulista de 2025 reforçam essa ligação. Apesar disso, Melo negou qualquer envolvimento direto com Buzeira, afirmando que ele apenas visitou o CT em um momento informal e que não contribuiu financeiramente para campanhas eleitorais.
A investigação ainda aponta possíveis vínculos entre Buzeira e organizações criminosas, incluindo suspeitas de participação em rifas fraudulentas e conexões com um traficante conhecido como “Neymar do PCC”. A delação de Antônio Gritzbach, morto em 2024, também reforça a suspeita de que empresas como a UJ Football estariam envolvidas em esquemas de lavagem de capitais com ramificações no futebol.
Buzeira, por sua vez, nega qualquer envolvimento com irregularidades e afirma que aguardará o acesso completo ao inquérito para se manifestar oficialmente. Enquanto isso, o caso segue em análise pelas autoridades, que buscam esclarecer o papel de cada envolvido e o destino dos valores desviados dos cofres do clube. A repercussão do caso levanta questionamentos sobre a transparência na gestão esportiva e o uso de influenciadores em campanhas institucionais.