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Na noite da última quarta-feira (04), o ex-presidente do Corinthians, Augusto Melo, esteve presente no programa Arena SBT e comentou sobre a invasão no Parque São Jorge juntamente com apoiadores, no último final de semana negando golpe no clube e citou o título conquistado pelo Timão do Campeonato Paulista.
Augusto Melo nega golpe no Corinthians e defende sua gestão - "Dei um título Paulista"
Augusto Melo iniciou a sua fala: "(Sobre) paguei com traição. Um ano de ingressos congelados, um ano sem dinheiro e a gente ainda mantendo um dos ingressos mais baratos do mundo para que pudesse dar chance à torcida (ir ao estádio). O corintiano está sorrindo. Dei título Paulista, dei título da Copa São Paulo. A gente está equacionando algumas situações. Isso é traição?"
Augusto Melo ainda falou sobre a sua retirada temporária da presidência do Corinthians e nega que a Polícia o tenha retirado: "Não fui convidado pela polícia. Ao contrário, eu que tive um acordo com o Osmar (Stabile, presidente interino do Corinthians) de me retirar numa boa, tranquilo, para que acabasse isso, para não continuar."
Ainda prosseguiu o ex-presidente do Corinthians sobre ter saído da sede do clube no Parque São Jorge, antes de acontecer a votação do seu processo de impeachment: "Se não a gente ia ficar a noite inteira, ou teria todo mundo que ir para a delegacia resolver lá. Porque o impasse, juridicamente, nós estamos certos. Quanto a isso, estou tranquilo."
Ex-presidente ainda negou que tenha praticado golpe: "Sou contra. Golpe estão tentando me dar desde o primeiro dia e estão tentando conseguir. Todo mundo fala do estatuto. Tem que cumprir o estatuto. Eu não saí numa boa? Se saiu, se foi votado, tem que sair. E eu saí numa boa. Não esperneei nada. Fui buscar meus direitos. Só isso. É isso que eles têm que fazer também, mas deixa que agora infelizmente é a justiça que vai resolver. A minha parte eu fiz. Agora dar golpe? Eu sou o primeiro contrário a isso. Estou levando golpe desde o dia que eu assumi esse inferno. E com tudo isso, estou conseguindo trabalhar."
Documento sigiloso recebido pela Polícia Civil em 2024 citava esquema de dívidas eleitorais e nomes ligados ao Corinthians
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A Polícia Civil concluiu o inquérito sobre o caso VaideBet e apontou que uma denúncia anônima recebida em dezembro de 2024 foi fundamental para o avanço das investigações. A delação foi encaminhada à sede do DPPC e retransmitida à unidade responsável em 12 de dezembro. Apesar do caráter não identificado do denunciante, as autoridades ressaltaram que o conteúdo contribuiu com dados compatíveis com as provas reunidas.
Segundo o documento, o denunciante relatou que Augusto Melo, presidente afastado do Corinthians, teria contraído dívidas durante as campanhas presidenciais do clube em 2020 e 2023. Para saldar esses débitos, ele teria aberto espaço dentro do clube a interesses de empresários e figuras ligadas ao crime organizado, em um contexto que incluiu a operação com a casa de apostas.
A denúncia também relaciona nomes como Buzeira, Roberto Graziano, o laboratório EMS e até uma suposta ponte com o PCC feita por Marcos Boccatto, dirigente do Corinthians e do Água Santa. O relato ainda sugere que Augusto estaria utilizando colete à prova de balas por medo de represálias de credores.
A delação foi considerada consistente com outros elementos do inquérito, como os extratos bancários do Banco Safra e os depoimentos de testemunhas, entre elas Rubens Gomes, o Rubão, ex-diretor de futebol e aliado na campanha de 2023. Rubão estimou que os custos da campanha giraram em torno de R$ 3 milhões.
Foram indiciados Augusto Melo, Marcelo Mariano, Sergio Moura e Alex Cassundé por associação criminosa, lavagem de dinheiro e furto qualificado. O ex-diretor jurídico Yun Ki Lee foi indiciado por omissão imprópria. O inquérito também cita que o dinheiro desviado do Corinthians teria ido parar em contas de empresas ligadas ao crime organizado.
Polícia identificou repasses a empresas ligadas ao crime, com transações envolvendo futebolistas e o ex-patrocinador do Timão
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A Polícia Civil de São Paulo concluiu o inquérito que apura irregularidades no contrato entre o Corinthians e a casa de apostas VaideBet. Segundo o relatório, houve desvio de recursos por meio da comissão de intermediação, com valores destinados a contas associadas ao crime organizado.
Duas empresas são citadas como responsáveis pela lavagem de dinheiro: Wave Intermediações Tecnológicas e Victory Trading. Os repasses, segundo a investigação, teriam beneficiado a UJ Football Talent, apontada como ligada ao PCC. O Corinthians transferiu R$ 874.150 mil à empresa por meio das intermediadoras.
Nas 272 páginas do inquérito, consta que as operações tinham como objetivo dificultar a identificação da origem dos valores. Em meio às apurações, o atacante Lucero, do Fortaleza, teve seu nome envolvido em duas transações feitas por essas empresas em dezembro de 2023. O jogador não é investigado, e sua equipe afirmou desconhecer as empresas.
As transações ligadas a Lucero envolveram R$ 357.305,00 pagos à Wave e R$ 130.000,00 à Victory Trading. A UJ Football Talent, envolvida nesses valores, atua também no agenciamento de atletas, segundo a investigação.
A conclusão do inquérito resultou no indiciamento de Augusto Melo, Marcelo Mariano e Sérgio Moura, ex-dirigentes do Corinthians, pelos crimes de lavagem de dinheiro, furto qualificado e associação criminosa. O ex-diretor jurídico Yun Ki Lee também foi indiciado, por omissão imprópria.
Horas antes de deixar o comando do Timão, ex-presidente autorizou aditivo contratual que aumentou multa de funcionário citado no inquérito do caso VaideBet
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Poucas horas antes de ser afastado da presidência do Corinthians, Augusto Melo assinou um aditivo contratual que triplicou a multa rescisória de Marcos Boccatto, Superintendente de Novos Negócios do clube. O documento foi assinado no dia 26 de maio, mesma data em que o Conselho Deliberativo aprovou o impeachment de Augusto. A assinatura foi acompanhada por duas testemunhas ligadas à gestão afastada.
O aditivo elevou a multa de Boccatto de um salário, estimado em R$ 25 mil, para três vezes esse valor. O funcionário foi desligado na primeira semana sob o comando de Osmar Stabile, presidente interino do clube. O vínculo de Boccatto com o Corinthians também é citado no inquérito da Polícia Civil que investigou irregularidades no caso VaideBet.
A Polícia apontou possível ligação de Boccatto com o crime organizado. Ele ocupava cargos simultâneos no Corinthians e no Água Santa, clube citado em denúncia anônima como “comandado pelo PCC”. Assim como outros contratos da gestão, o aditivo em questão não passou pela avaliação do Departamento Jurídico do clube, que afirmou não ter sido informado.
A situação é semelhante a alterações contratuais promovidas com empresas do grupo RF Segurança e Serviços, também assinadas por Augusto Melo e sem a devida consulta ao jurídico. As assinaturas ocorreram semanas antes da decisão do Conselho Deliberativo. À época, Vinicius Cascone era o responsável pelo setor jurídico do clube.
Procurado pela reportagem, Augusto Melo afirmou que não era a pessoa indicada para comentar o caso. “A fonte que te gerou essa informação deveria, em primeiro lugar, zelar pela preservação dos dados das pessoas envolvidas”, declarou, citando a Lei Geral de Proteção de Dados como justificativa para não se manifestar.